Meu processo criativo envolve magias ancestral de alta tecnologia, meu bem.
O sangue é derramado em oferenda quântica enquanto crio.
Um cordeiro é sacrificado.
Tem batuque eletrônico de branco maluco, envolto em fumaça e paus de incenso Nag Champa,
provenientes de flores enroladas à mão por idosas indianas santas,
sacrificadas pelo capitalismo espiritual.
É um ritual.
É pacto com as sombras.
É pacto com a luz.
Eu sou o veio branco maluco, bb.
Minha escrita é delirante desde jovem.
Acenda uma vela pra mim.
Toca um psy-trance de doido.
Eu baixo e danço.
Danço como um lunático vendado pela pureza de ser um eterno ser em estado de graça.
VHS estourado. Xuxa canta Lua de Cristal ao contrário.
Um pastor grita “cura gay” no Fantástico.
O pai tranca rua a porta do quarto.
Lázaro, 7 anos, brinca com glitter escondido dentro de um travesseiro rasgado.
O espelho coberto com véu de noiva da avó falecida.
Primeira ereção ao ver um goleiro na Copa de 94.
Primeira culpa.
Primeiro poema no inferno: "Eu sou um anjo em queda que sangra azul pelo cu".
Primeiro beijo – língua suada, gosto de Halls preta.
Primeira rave – mato, suor, ácido, um cara que dizia ter vindo de Saturno.
Primeiro surto – 16 anos, internado com flores nos bolsos e uma bíblia adulterada.
Último surto – 2020. Niterói em chamas.
O mundo de máscara.
Messias foi embora.
Lázaro escreve no chão da cozinha, nu, coberto de glitter e sangue menstrual de uma amiga bruxa.
Ao lado, uma vela tremeluz:
"O amor não salva. Mas grita."