favecon-foguetinho-2025.png
malditologo.png

ANTES DO NEON

 

“When she's got a rainbow syrup in her heart that she bleeds”  

“'Cause we're gonna drink until we die” 

 

Ao som de Highway Unicorn (Road To Love) de Lady Gaga: 
 

cartamalditoneon1processo.jpg

Meu processo criativo envolve magias ancestral de alta tecnologia, meu bem. 
O sangue é derramado em oferenda quântica enquanto crio. 
Um cordeiro é sacrificado. 
Tem batuque eletrônico de branco maluco, envolto em fumaça e paus de incenso Nag Champa, 
provenientes de flores enroladas à mão por idosas indianas santas, 
sacrificadas pelo capitalismo espiritual. 

 

É um ritual. 
É pacto com as sombras. 
É pacto com a luz. 

 

Eu sou o veio branco maluco, bb. 
Minha escrita é delirante desde jovem. 
Acenda uma vela pra mim. 
Toca um psy-trance de doido. 
Eu baixo e danço. 
Danço como um lunático vendado pela pureza de ser um eterno ser em estado de graça. 

 

VHS estourado. Xuxa canta Lua de Cristal ao contrário. 
Um pastor grita “cura gay” no Fantástico. 
O pai tranca rua a porta do quarto. 
Lázaro, 7 anos, brinca com glitter escondido dentro de um travesseiro rasgado. 
O espelho coberto com véu de noiva da avó falecida. 
Primeira ereção ao ver um goleiro na Copa de 94. 
Primeira culpa. 
Primeiro poema no inferno: "Eu sou um anjo em queda que sangra azul pelo cu". 

 

Primeiro beijo – língua suada, gosto de Halls preta. 
Primeira rave – mato, suor, ácido, um cara que dizia ter vindo de Saturno. 
Primeiro surto – 16 anos, internado com flores nos bolsos e uma bíblia adulterada. 
Último surto – 2020. Niterói em chamas. 
O mundo de máscara. 
Messias foi embora. 

 

Lázaro escreve no chão da cozinha, nu, coberto de glitter e sangue menstrual de uma amiga bruxa. 
Ao lado, uma vela tremeluz: 
"O amor não salva. Mas grita." 

cartamalditoneon1pacto.jpg

O Brasil é um animal em combustão. 
Respira por aparelhos de neon. 
Tem cheiro de catuaba barata, canela e gás lacrimogêneo. 
É uma mãe que bate enquanto reza. 
É um pai ausente que aparece só pra votar e castrar. 

 

As veias do Brasil são avenidas congestionadas e rituais de umbanda. 
A alma do Brasil é uma rave em ruínas. 
Todo dia morre um menino negro e nasce um crente. 
Todo dia Lázaro escreve mais uma linha como quem se corta à navalhadas. 
O verbo dele sangra em cores digital. 
O verso dele fede a morte. 
Mas brilha, bb. 

 

Bem-vinde ao corpo de Maldito Neon. 
Não existe aviso de gatilho aqui. 
Existe pulo no abismo. 
Existe amor que cola e rasga. 
Existe febre. 

 

Aqui começa o delírio. 
Aqui começa a oferenda. 
Acenda uma vela. 
Respire fundo. 
É sobre amor. 

 

[✴️ CAPÍTULO 1 – AMOR] 

 

capamalditoneon2025.jpg