ao som de “BOOM” – X Ambassadors
🎵 My feet go boom boom boom
🎵 Boom boom boom, boom boom boom
🎵 My heart beats boom boom boom
🎵 Boom boom boom, boom boom boom
🎵 High speed go zoom zoom zoom
🎵 Zoom zoom zoom, zoom zoom zoom
🎵 My feet go boom boom boom
Lázaro está sentado no parapeito de um mirante, alto, com vista para o mar.
O céu é de um dourado tímido que se dissolve em tons de cinza.
A cidade inteira de Niterói parece respirar devagar.
Ele segura uma garrafinha de água pela metade e um pão francês velho, com peito de peru & queijo.
Ao seu lado, uma sacola com uma blusa amarrotada, um caderno e um remédio vencido.
Silêncio.
Ele fecha os olhos e escuta o vento.
O som das ondas lá embaixo.
O barulho distante de uma buzina.
Abre o caderno.
Escreve com letra trêmula:
“Hoje eu não desisti & não desistirei jamais!”
Fecha.
Sopra sobre a capa como quem sela um pacto.
A música continua a ganhar corpo.
🎵 My feet go boom boom boom…
Lázaro se levanta.
Respira fundo.
Coloca o fone de ouvido.
Desce devagar, pela trilha do parque.
Cruza com um senhor que acena.
Com uma menina que sorri e segura um girassol de plástico que dança.
Ele retribui.
De leve, sorrindo tímido de canto de boca.
Mas retribui, com carinho & gratidão.
Corta para:
📷 Close no rosto dele, suado, cansado, mas com os olhos firmes no caminho.
🎵 My heart beats boom boom boom…
No fundo da mochila, esquecida e amassada, uma cartinha escrita à mão, com caligrafia de mãe:
“Nunca se esqueça: você é meu milagre diário.
Amor, Mamãe.”
Ele lê de novo.
Guarda de volta.
E sorri.
Não muito.
Mas o suficiente pra continuar.
Esperança é continuar levantando mesmo sem saber por quê.
É dançar na chuva ou em dias nublados porque confia.
É quando o corpo quer parar, mas o coração ainda pulsa.
Lázaro entende: esperar não é cruzar os braços —
é manter a mão estendida mesmo depois de mil portas fechadas.
“Eu não espero porque acredito.
Eu espero porque é tudo que me sobrou.”
Um amigo manda mensagem:
— “Pensei em você hoje. Tá tudo bem aí?”
E essa frase simples atravessa o concreto armado que Lázaro ergueu.
É assim que a esperança nasce:
Não no grito, mas no gesto.
Não na multidão, mas no toque, afeto.
Às vezes, alguém lembrar que você existe
é tudo que impede o fim de chegar.
Lázaro parou de sonhar com o sucesso das massas, vendido em fórmulas.
Agora sonha com estabilidade, saúde mental em dia.
Com janelas sempre abertas para o Sol & Lua.
Com tardes sem culpa, deitado e fumando seu baseado.
Com amor sem manual e cobranças de nenhuma espécie.
Esperança é desejar o essencial.
E acreditar que o essencial é possível.
Mesmo sem certezas. Mesmo sem provas.
O café ficou viciante.
A luz voltou forte.
A dor cedeu.
A cabeça ficou leve por uma tarde inteira.
Isso já é motivo.
Já é suficiente.
Esperança é colecionar muitas migalhas de paz & transformá-las em abrigo.
Lázaro sonha com um mundo onde ninguém precise se matar pra descansar.
Onde a arte pague o aluguel.
Onde a loucura seja tratada com respeito & não com algemas.
Não é revolução.
É utopia prática.
É sonhar acordado com o que ainda não veio
mas já mora no desejo coletivo.
Lázaro lembra de se encolher dentro do abraço da mãe quando tudo desabava.
Da professora que viu talento onde só havia caos.
Da primeira frase que escreveu e alguém disse:
— “Isso é lindo, Lá.”
Essas lembranças não são passado.
São combustível do futuro imediato.
São cordas que puxam do abismo.
São provas de que já valeu a pena uma vez — e pode valer de novo.
“Se você chegou até aqui,
é porque ainda acredita em alguma coisa.
Talvez no amor.
Na arte.
Num café com pão quentinho.
Num mundo menos cruel.
Seja lá no que for — segura isso.
A esperança não é luz no fim do túnel, bb.
É o fósforo riscado na escuridão.
E se cada um acender o seu…
vai ter fogo suficiente pra uma enorme fogueira & iluminar a própria vida.”
ao som de “Shake It Out” – Florence + The Machine
Às vezes, esperar é só o ensaio.
O verdadeiro ato começa quando você levanta.
Quando o corpo responde.
Mesmo com dor.
Mesmo sem motivo.
Lázaro caminha por uma rua vazia,
com o sol abrindo entre os postes,
sentindo o chão sob os pés como quem pisa em território sagrado.
Ele não está feliz.
Mas também não está no fundo.
Está no entre.
No meio.
No intervalo entre o medo e o possível.
A mochila nas costas não pesa menos.
O mundo continua feio em muitos aspectos.
Mas há algo novo nos olhos:
uma fagulha de coragem.
A música no fone diz:
"It's hard to dance with the devil on your back,
So shake him off…"
E Lázaro balança a cabeça.
Respira fundo.
Ajusta a gola da camisa.
E dá o próximo passo.
Superar não é vencer.
É continuar.
Com estilo, se possível.
Com verdade, sempre.