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[🔥 CAPÍTULO 14 – SUPERAÇÃO] 

ao som de “Dog Days Are Over” - Florence + The Machine 

 

📍 Niterói. Vista da Baía ao fundo. Céu ainda meio roxo, meio azul. A cidade acordando preguiçosa. 

 

🎵 “Happiness hit her like a train on a track…” (voz de Florence começa suave) 

 

Lázaro corre. 

 

Descalço. 

 

No asfalto ainda frio. 

 

Calça moletom velha marcando uma ereção contida, camisa branca manchada de tinta. 

 

Seu corpo está exausto, suado, com os olhos vermelhos de quem chorou demais — ou fumou pra esquecer. 

 

Mas ele corre. 

 

Pelas ruas vazias do Ingá, desviando de pombas, bitucas, sacolas plásticas e memórias de fracassos. 

 

🎥 Corte seco para os pés dele — a pele gasta, machucada, mas firme. 

 

Câmera acompanha em plano lateral contínuo, com os postes de luz se apagando um a um enquanto o dia começa. 

 

🎵 “The dog days are over…” — a batida cresce, os violinos choram com fúria mística. 

 

Lázaro corre como quem fugiu da morte pela nona vez. 

 

Corre como quem tem raiva, saudade, tesão e fome de futuro. 

 

Passa por um grupo de garis, que dançam ao som de um radinho desafinado. Um deles grita: 

 

— “Vai, Forrest Gump carioca!” 

 

Lázaro ri, sem parar de correr. 

 

Respiração pesada. 

 

O suor escorrendo. 

 

O peito abrindo espaço entre uma dor e outra. 

 

🎥 Close no rosto dele, em câmera lenta: os olhos castanho-claros brilham como fogo em dia nublado. 

 

Ele não sabe pra onde vai. Mas sabe que já saiu do lugar onde queria morrer.

 

🎵 “Run fast for your mother, run fast for your father…” 

 

Corte para uma rua com o mar ao fundo. Ele para. Põe as mãos nos joelhos. Respira fundo. 

 

Seus pés estão sujos. Seu rosto, limpo. 

 

Ele olha o horizonte como quem diz: 

 

— “Tô vivo, porra.” 

 

Corta para tela preta. Letreiro: 

 

[🔥 CAPÍTULO 14 – SUPERAÇÃO]

 

🎵 “Leave all your love and your longing behind…” 

ao som de “Green Light” - Lorde - Green  

 

I. Superar não é vencer. 

 

Lázaro já entendeu: 
Superar não é ter casa própria, 
não é estar 100% curado, 
não é postar textão de gratidão. 

 

Superar é levantar do chão com o sangue ainda escorrendo. 
É usar cicatriz como escudo & poesia como remendo. 
É dizer: 

 

— "Não estou bem. Mas estou indo & vou continuar." 

 

 

II. O que ele não superou (e tudo bem) 

 

Lázaro ainda sente falta de quem foi com Messias; ingênuo, bobo, romântico. 
Ainda sonha em explodir o INSS de Niterói. 
Ainda tem crises de riso em velórios e medo de praia cheia. 

 

Ele não superou alguns ghostings, nem a rejeição da sua ajuda pelo próprio pai. 
Nem o julgamento dos “amigos” que somem quando ele surta & desaparece para se recompor. 
E tá tudo bem, meu bem. 

 

Porque a superação não exige amnésia emocional. 
Ela só exige movimento constante. 

 

 

III. O que ele aprendeu a enterrar 

 

Enterrou expectativas.

 

Enterrou vícios como álcool & cigarro, bem como benzodiazepínicos. 
Enterrou o ego inflado da bipolaridade fragmentada. 
Enterrou o desejo de ser amado por todos e em especial por um. 

 

Descobriu que enterrar algo não é perder. 
É dar limite & espaço para o que ainda pode nascer. 

 

 

IV. A força dos dias pequenos 

 

Lázaro entendeu: 
O que sustenta a alma não são os grandes eventos. 
Mas os pequenos rituais diários: 
coar o café com calma, 

fumar seu baseado tranquilo, 
ouvir o som dos micos & canto dos pássaros, 

sentir cheiro de chuva caindo na terra molhada, 
fazer carinho no cachorro, 
ler uma postagem antiga que dizia “você é incrível, cara”. 

 

Superação é celebrar a própria resistência cotidiana. 

 

 

V. Os que vieram antes 

 

Lázaro lembra da mãe, do pai, da avó, do povo preto, pobre, queer,

neurodivergente, exilado em sua própria pele & terra.

 

Ele sabe que só está aqui porque muita gente sobreviveu antes dele. 
A superação é ancestral. 
É revolução que brota na genética & da casca rachada do tempo. 

 

 

 

VI. A reconstrução do amor próprio 

 

Superar foi parar de se diminuir internamente. 
Foi aprender a dizer: 
“Hoje eu me respeito.” 
Mesmo que o espelho ainda devolva dúvidas & rachaduras. 
Mesmo que ninguém elogie. 
Mesmo que o mundo continue tentando apagar sua luz e o tornar invisível. 

 

 

VII. Fecho – Testemunho de um sobrevivente imperfeito

 

“Eu não sou um exemplo. 
Eu sou uma sobrevivência potente.

 

Não superei tudo. 
Mas superei o suficiente pra continuar aqui, 
acordando cedo, tropeçando & criando beleza entre os cacos. 

 

E se você me perguntar: 
— Vale a pena? 

 

Eu respondo: 
— Só se for pra sentir profundo. 
Sentir o que dói, 
mas também o que pulsa & me faz vivo.” 

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🌬️ INTERLÚDIO — ENTRE SUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA

🎧 ao som de “Sweater Weather” – The Neighbourhood 

 

O vento bate forte no peito. 
Mas, dessa vez, Lázaro não fecha o casaco. 
Ele deixa o frio entrar. 
Deixa o corpo lembrar que está vivo. 
Porque só sente frio quem não desistiu. 

 

A música toca como se fosse trilha de um filme indie sobre recomeços silenciosos. 
E ele caminha devagar, ouvindo cada estalo da cidade, 
como quem varre os escombros do próprio caos com uma vassoura emprestada. 

 

Superar foi sair do incêndio, com tudo desabando ao redor. 
Resiliência será construir algo no terreno queimado e sobe escombros. 

 

Ele acende um baseado — sem culpa. 
Olha o céu cinza — sem pressa. 
Deixa o cabelo bagunçado — sem tentar disfarçar. 

 

Já não precisa parecer forte. 
Agora ele é. 

 

Respira fundo. 
O ar é gelado, mas entra. 
O peito dói, mas expande. 

 

E enquanto a guitarra soa como uma lembrança embriagada, 
ele sussurra pra si mesmo: 

 

“Eu não sou mais o mesmo de antes. 
Mas sou quem sobreviveu até aqui. 
E isso… já é muito.” 

 

O casaco que veste não é novo. 
Mas agora cabe. 
Agora aquece. 
Agora tem história. 

 

Porque resiliência é isso: 
não vestir a roupa ideal, 
mas aprender a amar o corpo que a veste. 

 

E seguir. 
Mesmo com o vento cortando o rosto. 
Mesmo sem saber onde vai dar. 
Mas seguir. 
Porque ainda pulsa vibrante.