🎧 ao som de “Está Chegando a Hora (Abre Alas)” – Marcelo D2
Maturidade, pra Lázaro, nunca foi sobre “acertar”.
Foi sobre quebrar a porra toda para se reconstruir como quer —
e ainda assim continuar amando o que sobrou.
Todo dia ele acorda e precisa desaprender algo:
Um medo herdado.
Um julgamento internalizado.
Uma mentira dita por amor.
Crescer não é virar adulto.
É virar dúvida.
É não saber mais o que é certo,
mas sentir quando algo é real, cruel e desonesto.
Num mundo onde cada um só quer salvar o próprio umbigo,
ser gentil & empático é revolucionário.
Lázaro entende que empatia é a única coisa que ainda presta.
Ele não quer salvar o planeta,
mas quer salvar o vizinho da depressão.
Quer salvar a própria mãe & irmão do cansaço.
Quer salvar o amigo do burnout.
Quer salvar o entregador da humilhação de não ser visto.
Às vezes, crescer é só isso:
olhar nos olhos e dizer “tô contigo, cara”.
Maturidade também é ver o truque.
O céu não é azul.
A política não é limpa.
O trabalho não te valoriza.
A meritocracia é um mico adestrado.
O amor romântico é uma novela mexicana ensaiada & com final reescrito por algoritmos.
Ele olha ao redor e vê:
ninguém sabe o que tá fazendo.
E se todo mundo tá fingindo,
o mínimo é fingir com autenticidade.
Lázaro mede 1,70m.
Baixinho, olhos claros, dentes tortos,
paladar infantil e sensibilidade de velho ermitão.
Ele já não precisa mais agradar nobody.
Agora ele quer paz, é cringe.
Quer coar o café forte e tomar em copo de boteco enquanto fuma seu santo baseado.
Quer uma meia quente, engraçada e colorida no inverno de Niterói.
Quer ser tocado com afeto, e não com performance artificial.
Aceitou que o corpo não é produto.
É templo sagrado.
Mesmo que o chão esteja rachado.
🎧 ao som de “Desabafo Deixa Eu Dizer)” – Marcelo D2 & Claudia
Se voltar...
Jesus que volte armado!
Porque do jeito que tão, crucificam de novo, mané.
Lázaro já foi espírita cristão.
Depois foi cético & pagão.
Depois foi místico do caos, lisergia & nirvana mental.
Hoje ele crê na gentileza.
Na ciência.
No CAPS.
No café com mel.
No casaco num dia nublado.
Na força da dúvida.
Se Deus existir, que aceite esse tipo de reza.
Maturidade também é aceitar que você nunca vai se encaixar 100%.
E tudo bem, meu bem.
Lázaro descobriu que não é carioca —
é niteroiense com alma de velho português de casaco no cais abandonado.
Gosta de ficar em casa.
De fumar em silêncio.
De escrever com música.
De não fazer parte de grupos & manadas.
Mas também de sentir que pode.
Se quiser.
Quando quiser.
Fazer parte de tudo & todos.
Maturidade não é planilha e um checklist ok.
É poesia com boletos de bunda de fora.
É saber o CPF de cabeça
e ainda esquecer onde guardou a esperança.
É viver sabendo que a utopia é difícil pra caralho,
mas não impossível, neném.
É assumir que a vida é caos.
Mas que ainda dá tempo de fazer café
pra quem a gente ama.
E dizer:
"Eu não sei o caminho certo, bb.
Mas tô aprendendo a caminhar de cabeça erguida & olhar aguçado."
[FIM DO CAPÍTULO 12 – MATURIDADE]
ao som de “Try” – P!nk
Depois que a gente entende que não vai chegar “lá” — de lugar comum,
o que sobra é só caminhar direito aqui.
Lázaro olha o horizonte pela janela panorâmica do ônibus 46 — Várzea das Moças.
Chove leve. Um menino cochila no banco da frente.
Uma senhora segura uma sacola com pão e flor.
Um casal discute baixinho sobre o que vão jantar.
O mundo continua.
Mas agora…
ele o vê com mais cuidado.
Já não espera que tudo faça sentido.
Mas torce, de coração limpo,
pra que algumas coisas sejam paz.
Já não quer ser a revolução disruptiva.
Mas deseja ser uma pausa gostosa na vida de alguém.
Já não busca um milagre.
Mas reconhece que já viveu uns enquanto uma tarde nublada traz o cheiro exato do lar.
Maturidade não trouxe certezas empacotadas.
Trouxe silêncio.
E no meio dele,
brotou algo inesperado & à Força:
— a Esperança.
Não a tola.
Não a cega.
Mas a que sabe dos perigos
e ainda assim aposta.
Porque depois de tudo…
acreditar de novo
é o mais radical dos atos.