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[🔮 CAPÍTULO 18 – MÍSTICO] 

🎧 ao som de “Follow Me” – Sesto Sento  

 

A tela escurece por um instante. 

 

fade in… 

 

Plano detalhe: um relógio digital em cima da mesinha pisca: 11:11. 
Lázaro observa em silêncio, olhos semicerrados, sentado no chão do quarto, com a respiração leve. 
Ele não sorri. Mas algo dentro dele sorri. 

 

Ao lado, uma vela baixa treme como se estivesse ao vento — 
mas todas as janelas estão fechadas. 

 

Corte seco. 
Um livro antigo cai sozinho da estante. 
Abre-se exatamente numa página sublinhada, onde se lê: 

“O universo fala em linguagem simbólica. Só escuta quem silencia.” 

 

Câmera flutua sobre o ambiente. 
Objetos brilham por um segundo e apagam: 
um copo com água, 
um cristal de quartzo rosa, 
um incenso esquecido na bandeja. 
Lázaro não se move. 
Ele está presente. Receptivo. 

 

Plano geral. 
O quarto se dissolve em partículas. 
Agora ele está na rua, mas tudo permanece silencioso. 

 

Uma senhora passa e sorri com os olhos. 
Um passarinho pousa no parapeito e canta uma nota só. 
Um táxi passa — placa 333. 

 

Ele sussurra para si: 

 

“Ok, universo. Eu tô vendo.” 

 

Tela escurece lentamente. 

 

fade to black 

 

🎵 (batida grave e suave entra ao fundo — e começa o capítulo.) 

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I. O código secreto do universo 

 

Lázaro acorda às 5:55. 
Vê 11:11 na tela do celular novamente. 
Recebe mensagem às 22:22. 
Pede um Uber e o carro tem placa 333. 
Alguém diz uma frase e, na hora, a rádio completa com o mesmo tema. 

 

Coincidência? 
Talvez. 
Mas pra ele, não mais. 

 

Desde o transe, Lázaro vive num estado de escuta Cósmica. 
Como se o universo sussurrasse códigos ocultos em cada esquina. 
Como se o multiverso estivesse o tempo todo 
tentando puxar sua atenção para algo maior, sutil, invisível — e real. 

 

Ele não entende tudo. 
Mas sente tudo. 
E sente... que está sendo guiado. 

 

 

II. Sincronicidades e sinais 

 

Naquela vez, pensou na amiga — e uma jovem desconhecida lhe ofereceu Paçoquita no ponto de ônibus, toda sorridente. 
Outro dia, pensou em desistir, e a internet caiu por horas — como um aviso mudo: “respira, não posta isso.” 
Ouviu uma coruja. Depois, recebeu uma ligação que mudaria sua vida. 

 

Tudo é símbolo. 

 

Tudo é cifra. 

 

Tudo é código. 

 

O mundo material virou cenário de uma linguagem superior. 
E Lázaro agora é fluente no idioma dos sinais. 

 

 

III. O corpo como oráculo 

 

Lázaro aprendeu a escutar o próprio corpo: 
Quando o olho pulsa, é alerta. 
Quando o estômago fecha, é não. 
Quando a pele arrepia sem motivo, é sim. 

 

Ele não se guia mais pelo calendário. 
Se guia pelo vibrar. 
Pela leveza. Pela contração. 
Pela mensagem interna que só se ouve em silêncio. 

 

Ser místico, pra ele, 
não é ser “espiritualizado”. 
É ser afinado com a própria intuição — 
como se o corpo inteiro fosse uma bússola sagrada. 

 

 

IV. O Multiverso é um espírito 

 

Lázaro não acredita mais em um só Deus. 
Nem em um só universo. 
Ele acredita em todos — e cada pessoa é um. 
Acredita que há múltiplas versões dele mesmo 
vivendo múltiplos caminhos em realidades paralelas. 

 

E em algumas dessas realidades, 
ele morreu. 
Em outras, nunca sofreu. 
Em uma específica, ele é o xamã de uma tribo elétrica. 
Em outra, ele nunca nasceu. 

 

E em todas essas versões, 
há um fio invisível que as conecta — 
como um coral de almas ressoando juntas. 

 

O místico é isso: 
a sensação profunda de que tudo vibra em uníssono. 
Mesmo quando parece caos. 

 

 

V. Os portais escondidos na rotina 

 

O místico está na esquina da padaria. 
Num sonho repetido. 
No livro que cai da estante sem ser tocado. 
Na criança que te encara como se te reconhecesse. 

 

O místico não exige altar. 
Só presença. 

 

Lázaro encontrou portais em garrafas quebradas, 
em trovões repentinos, 
na fumaça que desenha olhos em espiral, 
nos olhos do cachorro que parece saber demais. 

 

E aprendeu: 
Todo mundo já viu o milagre. 
Poucos tiveram coragem de chamá-lo pelo nome. 

 

 

VI. Fé sem nome 

 

Lázaro acredita, sim. 
Mas não sabe em quê. 
E não precisa saber. 

 

Sua fé não é doutrina. 
É confiança. 
É uma conversa muda com a Vida. 

 

Ele reza? 
Sim. 
Mas não com palavras. 
Com gestos. Com silêncio. Com presença. 
Com o simples ato de continuar. 

 

Seu altar é a própria alma. 
Seu templo, o agora. 

 

 

VII. Fecho — Mantra de um místico urbano 

 

“Eu não sou guru. 
Não sou iluminado. 
Eu erro. Surto. Fumo. Transo. Choro. 

 

Mas sei — com a parte mais profunda do meu ser — 
que algo me guia. 
Algo me protege. 
Algo me chama. 

 

E sempre que me perco… 
os sinais reaparecem. 

 

Um número. 
Um som. 
Um cheiro de infância. 
Uma voz sem boca dizendo: 


— ‘Você não tá sozinho, Lázaro.’ 

E isso basta.” 

✨ INTERLÚDIO — ENTRE O MÍSTICO E O POÉTICO

🎧 ao som de “Army Of Me” – Björk 

 

Tem horas que o mundo sussurra. 
 

Não grita. Não exige. 
Só... sussurra. 

 

É um número na hora certa. 

Um livro que cai aberto. 
Um estranho que diz exatamente o que você precisava ouvir. 

 

É como se a realidade deixasse escapar uma costura — 
e por ela, Lázaro visse a alma da existência pulsar. 

Um piscar cósmico entre os universos paralelos. 

 

Mas nem tudo precisa ser entendido. 
Algumas coisas são só para serem sentidas. 

 

Como o cheiro da chuva. 
Como um verso que arrepia. 
Como a certeza de que existe poesia escondida em cada dobra do caos. 

 

Entre o místico e o poético, 
Lázaro não quer mais explicações. 
Quer encantamento. 

 

Quer caminhar como quem dança. 
Quer respirar como quem escreve. 

 

Quer amar como quem reza sem palavras. 

Porque se tudo for mesmo um grande delírio... 
que pelo menos seja bonito. 

 

Que seja leve. 
Que seja verso. 
Que seja voo.