🎧 ao som de “Chaos (Pixel vs. Wrecked Machines Remix)” – Astrix & DJ HighGuy
Festival de 2005.
Lázaro está há três dias de pé, no mesmo ponto da pista, em frente ao DJ.
O corpo: um fio de energia cósmica.
O rosto: derretido de êxtase, iluminado pelos strobes.
Ele não pisca. Não come. Não dorme. Não pensa.
Ele dança.
Como se estivesse sendo conduzido por entidades atômicas.
Como se o próprio planeta vibrasse em BPMs.
A camiseta já virou pano santo.
Os pés descalços já viraram raiz.
A alma?
Voa em espiral pelas caixas de som, bate nas copas dos coqueiros e volta, pingando suor sagrado.
🎵 Graves poderosos reverberam nas entranhas.
O corpo se mexe em espasmos tribais, como se estivesse sendo exorcizado pelo som.
Mãos em mudras.
Olhos em transe.
Coluna pulsando luz.
Quem tenta conversar, não consegue.
Quem tenta entender, desiste.
Mas todos sentem:
Lázaro virou altar.
Árvores dançam com ele.
Coqueiros fazem reverência.
As pessoas se ajoelham com copinhos d’água e toques suaves:
— “Toma, fritinho. Água é bênção.”
— “Você é luz.”
Ele sorri com a alma inteira.
Sente-se telepático.
Cada gesto é idioma.
Cada sorriso, um mantra.
Cada passo, um feitiço.
Quem vai embora pra comer ou dormir, volta e encontra ele ainda lá.
No mesmo ponto.
No mesmo pulso.
No mesmo estado alterado de pureza & entrega total.
Ele não se lembra mais do nome.
Nem do dia.
Nem da vida anterior.
Só sabe que ali, entre os beats e o pó da terra,
ele viu os átomos dançarem.
E eles sorriram de volta.
📽️ CENA DE ABERTURA – TAKE ACELERADO EM 360°
Lázaro dança.
Sozinho no centro de uma espiral de gente em êxtase.
O chão é areia quente, o céu uma cúpula de fractais pulsantes.
Ele está em Pratigí, no Universo Paralello, com o corpo entregue, suado, vibrando.
A música bate.
Não tem letra.
Mas diz tudo.
🎵 Bpm: 145. Psicodelia. Luzes líquidas. O tempo se dobra.
Transe é o momento em que o corpo vira código.
O suor vira idioma.
A espinha vira tambor.
Lázaro dança por horas, sem nome, sem culpa, sem ego.
É como voltar pro útero do mundo.
Sem droga, sem fuga.
Só ritmo, calor e liberdade.
“Ali, entre o beat e a respiração, eu existo sem passado.”
Transe também é escrever por 12 horas sem levantar da cadeira.
Esquecer de comer.
De descansar.
De responder.
O mundo vira letra.
A doença vira dom.
O bipolar vira alquimista —
e o hiperfoco, um superpoder sagrado do auto transe.
Lázaro entende:
a mente dele, quando acende,
é estrela cadente atravessando a folha em branco.
,
Lázaro já tomou LSD e virou galáxia.
Já bebeu Ayuaska e chorou sangue da alma.
Já fumou haxixe ouvindo mantras e entendeu o que era ser um animal calmo.
No pico do peiote, viu o rosto de Shiva dentro de uma fogueira
e dançou com ele até amanhecer.
Mas aprendeu:
“Nenhuma substância ensina o que você já não sabia — só te lembra.”
O verdadeiro transe não é paz.
É colapso bonito.
É catarse consciente.
É navegar o próprio inferno com lanterna na testa e glitter no peito.
Lázaro escreve com fúria selvagem.
Ama com intensidade inquietante.
Chora como quem desaba em lava.
Cria como quem delira em chamas.
A sanidade é superestimada.
Mas também há o outro transe.
O do silêncio denso.
Do mato alto.
Da solidão em Alto Paraíso de Goiás.
Só ele, o céu estrelado como nunca,
o som da água do rio ao lado.
Ali, Lázaro medita com o universo.
Ali, entende que toda rave externa é só metáfora da rave interna.
Transe é:
• dançar no meio da pista sabendo que é mortal;
• girar vendado até cair, rindo;
• deixar a alma pegar carona no beat até esquecer os boletos.
Porque, no fim,
o corpo que dança
é o mesmo que um dia quis morrer.
E agora quer só girar,
girar,
girar…
até virar luz, viver & reviver.
“Se você me encontrar numa pista de dança,
não me chame.
Não me acorde.
Não tente conversar.
Estou em transe.
Estou me curando.
Estou explodindo de ser quem eu sou.
E se o mundo acabar agora,
pelo menos eu fui embora dançando.”
🎧 ao som de “Deep Jungle Walk” – Astrix
Silêncio não existe na selva.
Tudo pulsa.
Tudo respira.
Folhas sussurram em frequências que só o coração escuta.
Insetos ritmam batidas invisíveis.
As árvores conversam entre si — em línguas antigas,
reverberando pela coluna de quem ousa entrar de olhos fechados.
Lázaro caminha descalço.
A cada passo, a terra quente o reconhece.
Sente seus calcanhares, sua dúvida, seu peso.
E diz, sem som:
— “Pode vir.”
Um cheiro de jasmim fermentado invade o nariz.
Um pássaro que nunca viu canta seu nome em estalos.
O céu lá em cima é verde-escuro, trançado por cipós e mistérios.
E por um instante…
a alma desacelera.
Não há tempo na floresta.
Só presença.
Só vibração.
Só a certeza de que o invisível é tão real quanto o suor no rosto.
Transe virou reverência.
Ritmo virou oração.
E o que antes era festa agora é rito.
Lázaro não dança mais.
Ele se dissolve.
Ele é o tambor.
Ele é a folha que cai.
Pronto pra seguir.
De volta ao mundo.
Mas levando a selva dentro de si.